O sonho de morar em outro país faz parte do leque de desejos de muitos brasileiros. Números da Belta – Brazilian Educational & Language Travel Association – apontam que, em 2018, mais de 360 mil pessoas saíram do país para fazer curso de idiomas, algumas vezes combinado com trabalho, graduações ou outras modalidades de intercâmbio.
Em 2019, o setor de intercâmbios fechou o ano com um aumento de 12% do faturamento. Porém, com pandemia de COVID-19 e o aumento das restrições nas fronteiras e aeroportos, muita gente precisou adiar o sonho. Além disso, mudanças significativas ocorreram no cenário mundial, principalmente nos campos econômico e digital.
Dessa forma, experiências que antes eram vistas como essenciais para a formação profissional e pessoal do indivíduo, tornaram-se menos importantes. Mas afinal, a aventura do intercâmbio ainda vale a pena em tempos em que se aprendeu a ganhar dinheiro sem sair de casa?
Assistimos ao desaparecimento das fronteiras pelo Zoom?
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE (2020), 8,4 milhões de brasileiros estavam trabalhando na modalidade home office, o que representa 10% dos trabalhadores ocupados no país, 81,4 milhões.
Assim, não é difícil imaginar que estes números aumentaram consideravelmente com a realidade da pandemia. Quem já trabalhava em regime remoto, continuou, mas muita gente enfrentou profundas mudanças que incluem, em muitos casos, até o redirecionamento da carreira.
Foi neste cenário de restrições e reuniões online que o mercado digital dissolveu as fronteiras físicas e aproximou empresas de profissionais que antes estavam muito longe para serem vistos. A flexibilização de horários permitiu que estes profissionais trabalhem para empresas localizadas em diferentes países e, com isso, recebam em moedas fortes, como dólar e euro.
Além disso, o setor educacional também impulsionou as atividades, oferecendo formação nos mais diferentes segmentos, com material de alta qualidade e o mais importante, sem que o aluno precise sair de casa. Nestas condições, a ideia de investir dinheiro e tempo em um intercâmbio pode parecer desnecessária e ultrapassada, mas será que é?
Ainda há vida lá fora.
Um levantamento feito por uma empresa suíça de recursos humanos que atua em 60 países, concluiu que 38% das pessoas ouvidas dizem ter sofrido da Síndrome de Burnout, ao longo do ano passado.
A pesquisa mostrou também que 32% dos entrevistados informaram que a saúde mental piorou significativamente por conta do trabalho à distância. Os pesquisadores entrevistaram 15 mil pessoas em meados de 2021, em diversos países do mundo.
Com isso, abre-se a reflexão sobre a necessidade que ainda temos, enquanto espécie, de outras realizações, que vão além das metas profissionais e financeiras.
Educação e trabalho não são as únicas razões pelas quais alguém se aventura em um intercâmbio. Algumas experiências vividas nesta fase podem colaborar muito para o autoconhecimento, ajudando a definir metas mais claras, tanto pessoalmente, quanto profissionalmente.
Além disso, arrumar as malas e ir viver em outro país, muitas vezes começando do zero, é uma situação que tem o poder de transformar velhas crenças e abrir a mente para novas possibilidades. Isto também favorece o surgimento de oportunidades, melhora o networking e claro, coloca um novo idioma no currículo.
Sigmund Freud, em seu livro “Além do princípio de prazer”, como bem explicado na resenha do Beco Literário, fala sobre a nossa compulsão pela repetição. Temos a tendência de repetir situações e comportamentos e, muitas vezes, criamos resistência ao novo, ao desconhecido. No entanto, é justamente o novo que nos desafia e nos transforma.
Portanto, se você cultiva o velho sonho do intercâmbio, saiba que ele está mais novo do que nunca, e pode estar mais fácil também. Com o aumento das vagas em regime remoto, tirar um tempo para si em um outro lugar já não requer largar tudo e voltar a estaca zero, e ainda pode se tornar um divisor de águas na sua carreira.
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